A substituição de Marco Antônio Raupp do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em pleno fim de mandato do governo representa “o desconhecimento” da importância da Ciência para o desenvolvimento do País. A opinião é da presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader.
Segundo ela, a comunidade científica está decepcionada e surpreendida com a saída de Raupp neste momento, considerando que este é um ano atípico para o país que terá Copa de Mundo e eleições presidenciais com toda a mobilização política e econômica que esses acontecimentos requerem. Dessa forma, Helena Nader assegura que a saída de Raupp e de boa parte de sua equipe, nesta atual conjuntura, pode atrapalhar o andamento dos programas da pasta de C&T, já que o novo ministro não está inteirado com todas as ações da pasta.
“Essa é uma mudança dramática, em pleno fim de governo, que nos trará impactos (negativos) que ainda vamos ver”, acredita Helena Nader, ao informar que ouviu ontem uma cantilena de decepção de vários cientistas, dos mais altos escalões da comunidade científica, e de empresários, sobre a saída de Raupp. “Todos estão decepcionados. Essa mudança é um desconhecimento da Ciência.”
Conforme Helena Nader, existem ministérios que são estratégicos para o desenvolvimento do País, como o Ministério da Educação e o MCTI, que são as bases para a transformação econômica e social. Dessa forma, Helena Nader defende que o MCTI não pode ser incluído “no pacote de moedas de troca de ministérios”.
“Um país que quer pertencer ao clube dos países ricos tem de ter estratégia de nação. E nessa visão estratégica tem de ter educação (e ciência e tecnologia). Um projeto de nação vai além de um projeto de governo. E estávamos vendo isso acontecer no Brasil.”
Alternância da política científica e tecnológica – Preocupada com a alternância da política científica e tecnológica nacional, a presidente da SBPC fez questão de lembrar que no último ano do governo Lula, em 2010, houve a 4ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável que traçou diretrizes para a política científica, e tecnológica e de inovação. No entanto, poucas foram cumpridas, em razão de cortes e contingenciamentos de recursos do atual governo.
Apesar de consecutivos contingenciamentos de recursos, Helena Nader afirmou que Raupp e equipe realizam um trabalho importante não apenas para Ciência, mas criou também, em especial, uma plataforma de Tecnologia e Inovação do governo Dilma.
“Raupp conseguiu fazer vários acordos, com diferentes ministérios, para trazer mais recursos e fomentar a área de ciência e tecnologia. Mas parece que tudo isso foi desconsiderado”, disse. Para Helena Nader, a troca de ministro deveria acontecer apenas caso a função dele não estivesse sendo cumprida corretamente.
Helena Nader reforça que não questiona a competência do futuro gestor do MCTI, pois o mesmo “já demonstrou sua competência à frente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig)”.
Disse, entretanto, que qualquer ministro que assumir a pasta agora, a apenas nove meses para o fim do atual governo, enfrentará dificuldade para tomar pé da situação, pois o MCTI tem uma arquitetura complexa e que envolve acordos com outros ministérios e diversos organizações. Helena Nader demonstra preocupação também com o contingenciamento de recursos, o qual Raupp sempre buscou evitar.
Perfil do novo ministro
Clelio Campolina Diniz saiu da reitoria UFMG para assumir o MCTI. Ex-presidente da Câmara de Ciência Sociais Aplicadas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), é formado em Engenharia Mecânica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas, dirigiu o Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BHTEC) e coordenou a área de economia do CTC da CAPES.
Enviada pelo Diretor: Jose de Arimateia